Psicólogo Mayck Hartwig

Avaliação neuropsicológica do TEA

O procedimento clínico para diagnosticar Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e outros transtornos do neurodesenvolvimento em adultos normalmente compreende avaliações extensas realizadas por uma equipe que inclui um neuropsicólogo e um psiquiatra ou neurologista totalmente treinado, podendo incluir também outros profissionais.

O neuropsicólogo realiza um exame chamado Avaliação Neuropsicológica que envolve uma série de procedimentos específicos, dentre eles a anamnese clínica com o paciente e um familiar, aplicação de testes psicológicos, escalas de autorrelato e heterorrelato, observação e escuta clínica. 

A Avaliação Neuropsicológica é um exame que tem como objetivo investigar as funções neurocognitivas, emocionais e comportamentais do paciente, tais como: atenção, memória, inteligência, linguagem, emoções, personalidade, sensorialidade, habilidades sociais, etc. A duração da avaliação varia de acordo com a complexidade da demanda. 

Ao final do processo avaliativo, o paciente recebe um relatório neuropsicológico ou laudo psicológico onde constam os resultados de todo o exame e o diagnóstico, se for o caso. Com a avaliação neuropsicológica em mãos o médico e outros profissionais de saúde tem recursos mais seguros para tomar as melhores decisões clínicas. 

Quais escalas utilizar? 

Umas das perguntas que mais recebi de psicólogos que estão iniciando o processo de avaliação com pessoas autistas, é: quais testes utilizar para diagnosticar TEA em jovens e adultos? Diante disso, quero fazer uma provocação: qual a técnica mais importante que aprendemos e treinamos durante a graduação em psicologia? 

< A escuta qualificada > 

Pois bem, a escuta qualificada possibilita a humanização das práticas de diagnóstico. É inviável diagnosticar sem escutar o que o paciente tem a nos dizer. 

Costumo dizer em minhas aulas que os testes e as escalas são úteis para confirmar boa parte do perfil que já identificamos previamente na anamnese.

Particularmente gosto de utilizar escalas e questionários, acredito que eles são muito úteis durante a avaliação uma vez que facilitam a interlocução entre o avaliado e o neuropsicólogo, além de aferirem com mais precisão as características que precisamos avaliar. Entretanto, escalas de autorrelato podem sofrer a influência de algumas variáveis que podem enviesar os resultados. É preciso cuidado ao analisa-los.

Dito isso, a principal escala utilizada para avaliar TEA em adultos no Brasil é a Escala de Responsividade Social – SRS 2, instrumento válido e confiável para rastrear sinais e sintomas de TEA em população brasileira. Ela pode ser aplicada ao paciente e aos seus familiares. O heterorrelato, aliás, é imprescindível em uma avaliação. 

Vale destacar ainda que o principal objetivo de uma avaliação neuropsicológica é traçar o perfil cognitivo, social, emocional e sensorial do paciente, para isso testes de avaliação da atenção, memória, inteligência, personalidade, inventário de habilidades sociais, escalas de avaliação do humor entre outros, podem ser utilizados, a depender da complexidade da demanda. 

Mas, lembre-se que o momento mais precioso de uma avaliação é a anamnese. Uma boa avaliação neuropsicológica é aquela que considera os dados qualitativos como soberanos e os testes e escalas como parte do processo, não a única via. 

Contribuições para o diagnóstico diferencial 

A avaliação neuropsicológica tem um papel importante para o diagnóstico do TEA em jovens em adultos. Durante uma avaliação neuropsicológica traçamos o perfil cognitivo, social, emocional e sensorial do paciente, facilitando assim o diagnóstico diferencial. 

Nem todas as pessoas que buscam pela avaliação neuropsicológica do TEA atendem aos critérios diagnósticos para tal, outras condições podem apresentar sinais e sintomas parecidos e acarretar prejuízos sociais e comunicativos. O diagnóstico correto é imprescindível para o processo de autoconhecimento do avaliado e para a tomada de decisão clínica mais assertiva. 

Diferenciar se um paciente tem TEA, se tem outra condição ou se tem TEA associado a outras comorbidades, é o objetivo principal do diagnóstico diferencial.

É importante destacar que os sinais e sintomas do TEA estão relacionados à atipicidades na comunicação e interação social e/ou adesão rígida a rotinas, movimentos repetitivos, gama restrita de interesses e/ou alterações sensoriais. 

Uma história de comunicação e socialização atípica distingue TEA de outras condições. Para diagnostica-lo, além de considerar a queixa atual é preciso um olhar atento para o desenvolvimento e para a evolução das comorbidades, se houverem.

A sessão devolutiva

A sessão devolutiva é um momento estritamente importante de um processo de avaliação neuropsicológica, é o momento em que os resultados e o diagnóstico serão discutidos com o paciente, assim como os encaminhamentos necessários.

É crucial que na sessão devolutiva o paciente entenda o seu perfil neurocognitivo, social, emocional e sensorial e como tal perfil é explicado pelo diagnóstico em questão. 

Para que o paciente engaje no tratamento indicado no momento da devolutiva, é necessário que ele entenda a importância dos encaminhamentos para promoção de qualidade de vida. Uma boa devolutiva pode auxiliar nesse processo.

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